Eu quero um pouquinho mais (da vida)”, diz um vendedor. “Gosto de coisa boa”, decreta uma empregada doméstica. “Não é por causa de 1 real que vou deixar de comprar a melhor”, completa uma assistente social. Todos da classe C, parte dos 86,2 milhões de brasileiros com renda familiar média de 1.602 reais e que hoje representam 46% da população. A ascensão da “nova classe média” está nas projeções há tempos, mas pouco se sabe sobre o que pensa e o que deseja essa fatia da sociedade. É o que a Limo Inc, empresa de estratégia de comunicação, investigou no estudo Breakonsumers. Apresentado em formato de documentário, revela novos padrões de consumo e uma tendência de convergência de comportamento das classes A, B e C. Grosso modo, Discovery Channel e compras na rua 25 de Março (comércio popular) para todos.
“O que vem depois da conquista da casa própria? Do carro? Da geladeira nova?”, questiona Laura Chiavone, publicitária formada em Sociologia e sócia da Limo, que, ao lado da publicitária Ana Kuroki, concebeu o estudo e o documentário.
Foram feitas 30 entrevistas qualitativas e ouvidos 2.016 integrantes das classes A, B e C em Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Na classe C, 81% dos entrevistados dizem ter tido mais oportunidades na vida do que os pais. Na A/B, 91% afirmam o mesmo.
Na classe C, 65% consideram que o Brasil melhorou nos últimos anos, enquanto 75% da classe A/B têm essa percepção. Por sua vez, uma parcela maior, 84%, dos pesquisados da classe C diz ter vontade de estudar mais, ante 78% na A/B.
O diferencial do Breakonsumers, porém, está em mostrar o consumidor como gente comum, na cozinha ou no sofá da sala, a expor seus conceitos de vida. É aí que vemos a classe C dizer que prefere creme de leite Nestlé, que “encarnou no Ford Focus” ou que “só tomo Coca-Cola”. Ou a classe A/B relatar a satisfação em pechinchar, “gosto de saber que paguei um bom preço”, ou confessar que “amo um genérico”. São exemplos da convergência de comportamentos.
O amplo acesso ao crédito é personagem invisível, porém muito presente, como mostra um casal da classe C. A esposa adora um carnê, “crédito é uma coisa dos deuses”, e o marido compra à vista, “o problema está na paciência da pessoa”. Ele também menciona o canal fechado Discovery Channel e o programa Provocações, exibido pela TV Cultura em São Paulo, como referências culturais.
Como observa a historiadora da USP Maria Helena Capelato: “A grande transformação (social) não veio pela economia”. Está, antes, na comunicação. Ou, em última instância, na educação.
Além da convergência de comportamento, Laura avalia que o anseio por mais conhecimento, para compreender e organizar o excesso de informações do mundo atual, é a descoberta mais importante do estudo. Desejo que, aposta ela, a crise financeira não abalará: “O capitalismo vai ressurgir, em novas bases. Quais serão elas?” A resposta pode estar no depoimento de uma empresária da classe A. “Os privilegiados têm de tomar cuidado”, alardeia. “O dinheiro vai mudar de mãos. Quem vai concorrer com meus filhos é quem hoje anda de ônibus.
”Carta Capital.
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