"Sete em cada dez jovens tendem a aceitar suborno em forma de
presente _ Maioria dos profissionais de até 24 anos hesita em denunciar
corrupção, indica pesquisa".
A manchete do R7 neste domingo, em matéria assinada pela colega Joyce
Carla (ver íntegra no link), baseada em pesquisa da ICTS Protiviti,
empresa de consultoria e serviços, é a meu ver a mais grave ameaça para o
futuro do país, já assolado por tantos casos de corrupção e de
sonegação de impostos, os grandes ralos do dinheiro público.
Acima de todas as outras, estamos vivendo uma profunda crise de
caráter, de valores e de princípios. É inevitável associar esta
preocupante pesquisa sobre o perfil ético dos jovens profissionais das
corporações brasileiras com as denúncias divulgadas esta semana sobre a
quadrilha que agia no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o
Carf, em que algumas das maiores empresas brasileiras criaram uma
espécie de parceria público-privada para lesar o Tesouro Nacional em
bilhões de reais, deixando no chinelo o que foi apurado até agora pela
Operação Lava-Jato.
Os recursos das empresas contra autuações da Receita Federal eram
julgados por servidores da Fazenda junto com representantes do
sindicalismo patronal. "Nenhum outro país digno de menção tem um sistema
semelhante", constata Elio Gaspari em seu artigo dominical na Folha.
Os números são assustadores, segundo os dados revelados pelo
jornalista. "No Carf tramitam 105 mil processos com R$ 520 bilhões em
autuações contestadas. A PF já achou 70 processos com desfechos
suspeitos. Nove extinguiram cobranças que iam a R$ 6 bilhões. Se
procurarem direito acharão cinco cobranças que valiam R$ 10 bilhões e
viraram pó".
Entre as grandes empresas investigadas citadas em reportagem do
Estadão, estão os bancos Bradesco (R$ 2,7 bilhões), Santander (R$ 3,3
bilhões), Safra (R$ 767 milhões), BankBoston (R$ 106 milhões) e Pactual,
e mais Ford, Mitsubishi, BR Foods, Camargo Correa, Light e Petrobras.
Segundo o jornal, o grupo RBS, afiliado da Rede Globo, está sendo
investigado pelo pagamento de R$ 15 milhões para que sumisse do mapa um
débito de R$ 150 milhões. São tantos milhões e bilhões desaparecidos
nesta selva da terra de ninguém que a gente corre o risco de se perder.
A Operação Zelotes, deflagrada na quinta-feira, investiga os crimes
de advocacia administrativa, tráfico de influência, corrupção,
associação criminosa e lavagem de dinheiro. Um estudo feito por
procuradores da Fazenda Nacional, que já comentei aqui, estima que, em
2015, a sonegação de impostos deve bater na casa dos R$ 500 bilhões. Se
todos pagassem o que devem, em lugar de contratar bons advogados e
pagar propinas, o governo federal certamente nem precisaria brigar tanto
pelo seu pacote fiscal, que se destina mais a cortar gastos do que em
aumentar a arrecadação.
Com estes exemplos vindos do andar de cima, não espanta a conclusão a
que chegou Maurício Reggio, sócio-diretor do ICTS. "As pessoas estão
acostumadas a pensar a corrupção como algo de fora, dos políticos, das
autoridades. Não percebem as próprias atitudes. Com isso, têm um padrão
para fora e não para si próprios". Dos 8.712 profissionais de 121
empresas pesquisadas, 82% admitiram aceitar atos antiéticos e 68%
hesitam em denunciar casos de corrupção dos quais tomam conhecimento.
Talvez muitos deles possam ser encontrados nas ruas e nas redes sociais
nas manifestações contra a corrupção.
É esta desenfreada hipocrisia nacional que está minando os alicerces
da nossa jovem democracia e colocando em risco o nosso futuro como Nação
civilizada.
Vida que segue.
Do B. do Kotscho