A importância da legenda
11/08/2008
Prefeitos de partidos grandes com má gestão administrativa têm mais chances de se reeleger do que bons gestores filiados a legendas pequenas. A média de reeleição de PT, PSDB, PMDB e PFL (atual DEM) foi de 70% nas eleições de 2000 para 2004. No mesmo período, entretanto, o índice de reeleição de governantes que melhoraram o funcionamento da máquina pública, independente do partido, é de somente 18%.
Esse desempenho também foi o dos prefeitos que pouco fizeram em relação à estrutura governamental. Ou seja, tanto faz, para o eleitor, se o governante aumentou ou diminuiu a máquina pública. Os resultados foram semelhantes nas reeleições de 1996 para 2000.
Essas conclusões fazem parte do estudo Bases da Política Brasileira: um estudo das reeleições nos municípios, tese de mestrado do cientista políticoAntonio Lassance, da Universidade de Brasília. A tese contraria a tradicional visão de que o partido não é determinante em uma eleição. Para Antonio Lassance, que é filiado ao PT, três razões explicam o peso eleitoral dos partidos.
A primeira é a “praticidade” que o partido proporciona ao julgamento do eleitor. “Mesmo que não se conheça o candidato, o eleitor consegue ter uma idéia do que o político defende por ser de um determinado partido”, diz. A outra vantagem dos partidos grandes é a estrutura de campanha eleitoral. “Um partido grande significa mais gente trabalhando na campanha e mais tempo de propaganda na televisão”, afirma. Além disso, o prefeito de um partido grande tem mais facilidade para firmar acordos e receber recursos dos governos estadual e federal.
Por outro lado, um político que melhorou a máquina ou controlou os gastos não consegue, exclusivamente por essas razões, a mesma vantagem eleitoral. “Essas mudanças são vistas como questões burocráticas ou internas”, diz o pesquisador. Além disso, as melhorias no funcionamento da prefeitura não significam diretamente mudanças na realidade do município. “O eleitor não quer saber dos meios para se fazer mudanças. Ele quer resultados”.
O estudo também contraria outra teoria central da política brasileira. Durante o período pré-eleitoral, não é raro ouvir dos políticos que o jogo eleitoral nos grotões é diferente das grandes cidades. Entretanto, a pesquisa mostra que as taxas de reeleições dos partidos nos pequenos, médios e grandes municípios, rurais ou urbanos, foram similares. “Pode fazer alguma diferença em comparações específicas. Mas quando se confronta os números dos mais de cinco mil municípios, vê-se que o eleitor pensa de maneira semelhante”, afirma o cientista político.
Para definir o que seria o “bom gestor”, o pesquisador filtrou nove índices qualitativos de um total de 240 dados de mais de cinco mil municípios. Esses números foram comparados ao desempenho de governos anteriores e municípios semelhantes. Os dados foram colhidos da Pesquisas de Informações Básicas Municipais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de dados do Tribunal Superior Eleitoral.
Os critérios qualitativos foram desde a quantidade de servidores com ensino superior até o planejamento orçamentário do município. “O desempenho administrativo não é um julgamento se o governo foi bom ou ruim. É a classificação dos prefeitos a partir das mudanças na máquina”, explica Lassance. “Mesmo que haja alguma distorção positiva ou negativa, os outros dados equilibram o resultado”, completa.
Carta Capital
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