domingo, 26 de abril de 2009

Foi feio... Mas foi bonito

É muito feio para uma nação ver dois ministros do Supremo Tribunal Federal, a instância mais importante da Justiça do seu país, batendo boca numa sessão em que se estava julgando uma questão, como se diz no Direito, de alta indagação. O jurista Dalmo Dallari chegou a comprar com uma briga de moleques de rua. Mas, é bom que se diga que a expressão do sempre abalizado e lúcido Dallari não é inadequada pelo menos para uma das partes, no caso, o ministro Joaquim Barbosa, que reagiu a uma provocação do presidente do colegiado, que não era a primeira vez que tentava humilhá-lo, quem sabe, talvez até por ser negro. Joaquim Barbosa já havia discutido rispidamente com Gilmar Mendes em outra ocasião. E sempre pelo mesmo motivo. A tentativa de humilhar. Da outra vez tinha sido fora do Plenário. Agora foi em plena sessão. O que Joaquim Barbosa disse a Gilmar Mendes foi exatamente o que está entalado na minha garganta e na garganta das torcidas do Flamengo, do Fluminense, do Corinthians, do São Paulo, ABC e América, Baraúnas e Potiguar. Todos os cidadãos de bem deste país estão com Gilmar Mendes pela garganta. Nunca uma autoridade, montada num posto tão elevado, com a obrigação de demonstrar equilíbrio e isenção, fez tanta patifaria e meteu tanto os pés pelas mãos, misturando Justiça com politicagem, usando palavras e declarações absolutamente inadequadas para o cargo que ocupa e para a instituição que representa e nunca ninguém que ali chegou misturou de maneira tão descarada interesses públicos e privados. Foi um verdadeiro orgulho para todos os brasileiros e brasileiras, pretos, pobres, discriminados, humilhados ver aquele homem negro levantar-se com uma estatura moral sem limites, exigindo respeito de um imbecil metido a faraó, que reagiu com um misto de estupidez e estupefação, entre coices e um sorriso amarelo e mais falso que uma nota de três reais. Particularmente, mais uma vez, senti-me extremamente orgulhoso do meu pai José Ireno, negro, vendo Joaquim Barbosa erguer-se e, do alto da sua dignidade, enquadrar a suprema arrogância de um homem que realmente destrói a imagem da Justiça brasileira e, mais do que isso, destrói a própria Justiça brasileira. O debate foi feio. Mas o gesto digno do ministro negro foi bonito. Talvez, até bonito demais. Foi lindo. Botou o preto no branco... Bravo, xará!

Crispiniano Neto: Porosa&Verso

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