quinta-feira, 19 de junho de 2008

ENTREVISTA

Franklin: Lula resgatou auto-estima do país e governa para 200 milhões de brasileiros

Em entrevista concedida ao jornalista Ricardo Kotscho e publicada pelo Portal IG, o ministro Franklin Martins, da Comunicação Social, fala sobre os ataques à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, classificando-os de “forma totalmente abjeta de se fazer política”; comenta a nova inserção do Brasil na geopolítica internacional e afirma que o governo Lula está construindo um país para 200 milhões de pessoas. Este, na opinião de Franklin, é um dos principais legados do presidente para as futuras gerações.

“Esse processo a meu ver não tem volta. Porque as pessoas começaram a experimentar mudanças, a melhorar de vida. Eu não sei quem será o próximo presidente, mas ele não conseguirá, seja qual for o partido dele, fazer com que a questão da inclusão social deixe de ser prioridade”, constata. Para ele, o resgate da auto-estima dos brasileiros é outro ponto de destaque da atual administração.

Leia abaixo a íntegra da segunda parte da entrevista com o ministro, publicada nesta quarta-feira (18). A primeira parte foi publicada ontem e pode ser lida a partir do link colocado no final deste texto.

Sob tiroteio cerrado, desde que seu nome surgiu como candidata à sucessão do presidente Lula, até onde a ministra Dilma agüenta? Foi prematuro o lançamento de seu nome? O governo já pensaria em alternativas? Como está a candidatura do governo à sucessão do presidente Lula?
Eu não acho que a Dilma esteja lançada. Acho que é um nome que aos poucos vai emergindo como possibilidade. Eu nunca vi um comentário do Lula em público dizendo: a minha candidata é a Dilma. O que eu vi nos jornais hoje é que houve um almoço e ele teria falado. O que acontece hoje é que você tem um governo muito bem avaliado, que não tem um candidato natural. Eu acho que hoje, que já diminuíram aquelas especulações meio sem sentido sobre terceiro mandato, sempre repelidas pelo Lula, mas que boa parte da imprensa e dos analistas políticos consideravam que era apenas um jogo de cena, que isso seria uma possibilidade. Eu digo, revelo que não vejo a menor possibilidade depois de conversas que tive com o presidente.

Um governo muito bem avaliado que não tem um candidato natural que haverá de ser construído durante esse período. Aí existem nomes que começam a despontar. O nome da Dilma é um deles. Eu acho que dentro do PT existem nomes possíveis e é normal que o PT aspire a ter candidato. Acho que o nome do Patrus é um nome possível, o nome do Jacques Wagner é um nome possível, o nome do Tarso Genro é um nome possível, o nome do Fernando Haddad. Todos esses nomes precisam se viabilizar. Eu acho que, até o momento, o nome da Dilma é que tem ganhado mais consistência. Ela parece assim, vamos dizer, como a primeira da fila.

E fora do PT o governo poderia apoiar outros nomes?

Temos outros nomes também no campo do governo. O Ciro é um candidato natural. Embora não sendo do principal partido da base de sustentação do governo, já foi candidato duas vezes, já foi ministro, o Lula tem enorme apreço por ele e é uma pessoa com qualificação. O Sérgio Cabral é um nome possível, se o PMDB vier a construir as condições para lançar um nome. Tudo isso são possibilidades.

E como ela agüenta essa pancadaria que já dura meses?

Essa pancadaria tem a ver com o fato, eu não tenho muita dúvida, dos adversários da oposição perceberem que ela é a primeira da fila no PT, que ela reúne qualidade políticas e pessoais para vir a se viabilizar. A Dilma tem uma relação muito forte com o Lula e o Lula será um grande eleitor. Neste nosso estilo de fazer política no Brasil, as pessoas acham que desqualificar o adversário é parte do processo para se credenciar para alguma coisa. É algo que tem a ver com a velha política. O Brasil é mais moderno do que isso e a Dilma já passou por coisas na vida muito difíceis. Foi presa, torturada, sobreviveu à prisão e à tortura e depois reconstruiu a sua vida. Possui condições para agüentar o tranco. Agora, ninguém é atacado de forma injusta, ninguém passa por processo destrutivo desse tipo sem se ferir e carregar cicatrizes depois. Agora, o que se vai fazer? Ceder àquilo que no fundo é um certo tipo de chantagem política, ou seja, “não faça política, não aspire a determinados cargos, se não nós o liquidamos”. Essa tentativa de destruição de reputações é uma forma totalmente abjeta de se fazer política.

Com a democracia consolidada e um crescimento econômico como há muito tempo não havia, acompanhado de estabilidade com distribuição de renda, qual será o principal legado do governo Lula e qual deve ser a prioridade em um projeto para o Brasil a ser defendido pelo próximo presidente? O que fica do governo Lula e qual deve ser a proposta do próximo?
O principal legado do governo Lula é que a questão da inclusão social entrou definitivamente na agenda do País. E isso não é uma coisa pequena em um País extremamente injusto e excludente. Eu acho que o Brasil era um País pretensamente arrumado para 40, 50 milhões de pessoas. Como ele tem quase 200 milhões, quiseram fazer com que ele fosse um País desarrumado na verdade. Acho que o grande legado do Lula é criar um processo para que o País se arrume para 200 milhões de pessoas. Isso não se faz de estalo, imediatamente, mas você tem uma perspectiva de que o País só se arruma quando se arrumar para todo mundo. Esse processo a meu ver não tem volta. Porque as pessoas começaram a experimentar mudanças, a melhorar de vida. Eu não sei quem será o próximo presidente, mas ele não conseguirá, seja qual for o partido dele, fazer com que a questão da inclusão social deixe de ser prioridade.

Existe um segundo legado do governo Lula extremamente importante: o País voltou a confiar em si mesmo. Acho isso de enorme importância. Se o País continuasse a ter o complexo de vira-lata - para usar a expressão do Nelson Rodrigues -, que ele tinha, ele não chegaria ao atual patamar. Um País só chega a algum lugar se ele aprende a confiar em si mesmo e entende que é capaz de resolver os problemas que estão em seu caminho. Isso vale para qualquer pessoa, mas vale para o País também. Acho que isso é uma coisa positiva. Acho que o Brasil voltou a gostar de ser brasileiro.

Qual será a marca deste governo no plano internacional, que mudanças você tem observado nas viagens que faz com o presidente ao exterior?

O Brasil tem uma inserção nova no mundo. É uma inserção que vem se dando de forma paulatina, suave, não arrogante. Mas o Brasil tem um peso maior nas discussões do mundo e tem um peso maior na África e na América Latina. O Brasil está com um peso maior para organizar o Sul e isso é algo que terá impacto. Estamos mudando de patamar e isso é o desafio para os próximos governantes, ou seja, não só para o próximo presidente. Para os próximos 15, 20 anos, é preciso ter projeto para esta mudança, quer dizer, para um País de 200 milhões e não de 40. Para um País que gosta de si mesmo e que não quer ser colonizado e não quer mandar em ninguém, mas que tem um peso próprio e acredita na sua capacidade de se projetar em função disso. E é um País que terá um peso próprio na economia mundial. Isso vale na agricultura, na indústria, no serviço, na energia. Terá um peso muito maior que hoje. As tarefas dos últimos 25 anos foram tarefas de arrumar a casa.

Eu sempre digo o seguinte: o Brasil tem cinco pontos de agenda que são defendidos por 85% da população e das forças políticas. Primeiro: democracia. Custou muito para conquistar. Hoje, o Brasil voltou a ser um País democrático. Segundo: inflação. Ter moeda, voltar a ter moeda. Terceiro: responsabilidade fiscal. Quarto: crescimento econômico. Isso tudo é muito bom, mas a gente precisa crescer. E quinto: inclusão social. Essa agenda, hoje em dia, não tem como fugir. Com base nela, temos que resolver como é a educação de um País que não será periférico, mas com papel relevante no mundo. Como serão as Forças Armadas, que não podem mais ficar no acostamento, como nos últimos 25 anos. Elas têm um papel institucional importantíssimo; papel político, a meu ver, zero. E que precisam estar aí preparadas para defender o País, ser capazes de ter uma capacidade de dissuasão que não permitam aventuras contra o País no futuro.

A gente fala em pré-sal. Evidente que o pré-sal, colocando o Brasil entre os maiores produtores de petróleo no mundo, tem enormes oportunidades, mas também tem riscos. Basta ver as disputas e as guerras pelas áreas que concentram essa energia. Precisamos ter uma política de ciência e tecnologia que seja capaz de fazer com que o Brasil acompanhe esta mudança que estamos observando. Por exemplo, o petróleo: nós não precisamos ser um País produtor e exportador como tantos países do mundo. O Brasil não precisa ser um País de Sheiks... O Brasil precisa ter um modelo como o da Noruega ou dos Estados Unidos, que usaram o petróleo para se alavancar economicamente, sofisticar-se, e não para ser um comprador de coisas fora trocadas por petróleo. Precisamos desenvolver a ciência e a tecnologia. O Brasil mudou de patamar. Ele não vai ser um País médio, um País do futuro. Ele será um País de 200 milhões de habitantes com um peso muito importante no mundo e tem que se preparar para isso.

Com essa força toda que está mostrando para defender o governo e o Brasil até parece que você é o candidato.

Não sou candidato a nada. Sou candidato a voltar para casa.

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19/06/2008

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