A queda de secretário do governo flagrado tomando “chopinho” com lobista-réu; as gravações telefônicas reveladas pela Polícia Federal evidenciando formação de quadrilha; a veiculação de carta-denúncia endereçada à governadora detalhando desvios de recursos do Detran e a conversa gravada entre o vice-governador e o ex-Chefe da Casa Civil, em que este admite que dois grandes partidos gaúchos se financiam de esquemas em órgãos públicos, fizeram explodir o epicentro político do governo Yeda, deixando o Rio Grande perplexo e escandalizado. Aliás, núcleo de governo que renovou-se após derrota do pacote de impostos e que assumiria o papel de ser o centro pensante e de estratégia do “novo jeito de governar”.
Estamos diante de um momento singular na história política do RS, a ponto de a própria governadora assumir que seu governo se encontra frente a uma crise ética. Pois sequer completou ano e meio e já realizou sucessivos redesenhos e recomeços.
O primeiro, no início do governo, redesenhava a administração pública, em um contexto que o Detran foi retirado da Segurança Pública e passado à Administração. Este modelo fez àgua já ao fim do primeiro ano, resultado da lógica conflitiva de governar, que viu-se esfacelar do ponto de vista da base legislativa, em total confronto com o Judiciário e quase rompido com os setores empresariais. Descortinou-se aí, uma crise política no RS.
O segundo recomeço foi baseado na recomposição do núcleo de articulação e gestão, tendo como principais artífices os hoje ex-secretários, da Casa Civil e da Secretaria Geral de Governo. Não passaram quatro meses e estoura a crise ética, assim definida pela governadora, e cujas causas não se devem a divergências de projetos, nem tampouco a uma intencionalidade da oposição, mas sim aos desacertos e interesses de caráter interno ao governo.
E agora, mais um recomeço, com a criação do “Gabinete de Transição”, talvez mais adequado “Gabinete de Crise”. Como forma de reação frente ao que se pode caracterizar de crise institucional que assola o Estado gaúcho. Enquanto as entidades, as instituições, as cidadãs e os cidadãos contavam com iniciativas fortes frente ao atoleiro ético da gestão, às denúncias, às investigações e aos indiciamentos, o que vemos, mais uma vez, são simples medidas maquiadoras. Numa nítida tentativa de substituir as posições e atitudes firmes que se esperaram de um gestor público sério e responsável, por mero factóide.
Adão Villaverde é professor, engenheiro e deputado PT/RS.
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