Michelle Amaral da Silva escreveu e Antônio Capistrano me enviou o recorte e eu repasso ao leitor pela importância da figura gigantesca que é Pedro Casaldáliga, o bispo dos pobres. Vamos à grande história que tardiamente vira livro: Corria a década de 1970. A inauguração de uma "fazenda", criada em terra de índios e camponeses expulsos, em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, exigia um evento à altura. Várias autoridades foram convidadas para prestigiar a festa: ministros, banqueiros, políticos, religiosos. Presentes, à parte, os trabalhadores que haviam "limpado" o terreno para a criação de gado dos novos donos. Entre os convidados, o bispo Pedro Casaldáliga, chamado para fazer parte, como era lógico, da trupe das autoridades. Chegada a hora do banquete, trabalhadores de um lado, em fila, com o prato na mão, para que cada um se servisse. Do outro, a gente importante sendo servida do banquete na sede da fazenda. Casaldáliga olha para um e outro lado, apanha seu prato e caminha até a fila de trabalhadores. "Meu lugar é aqui", diz. Naquele instante ficava clara a personalidade de Pedro Casaldáliga, o pastor dos pequenos. Tal fato, ocorrido num Brasil de cenário político conturbado, marcou a vida do bispo que encarnava a cristandade genuína: o olhar para os pequenos, pobres e excluídos. Os últimos da fila. Fatos como esse e muitos outros fazem parte do livro: Pedro Casaldáliga - As causas que imprimem sentido à sua vida - Retrato de uma personalidade. A biografia traz a lume a vida de um homem, conhecido internacionalmente por sua defesa da verdade e que doou toda a sua vida à causa do Evangelho. Coerente com a doutrina de Jesus, uma vez colocado pela Providência à frente da Prelazia de São Félix (MT), "encarnou-se" junto a seu povo tão amado. Tornou-se um com ele, participou de suas lutas e dores, principalmente durante a ditadura militar.
O livro
Escrever a biografia de um homem dessa envergadura que lutou contra toda a espécie de preconceito em várias frentes tornava-se dificílimo. Os coordenadores do livro decidiram, então, tomar cada uma dessas facetas, entregá-las à pena de vários especialistas que conviveram com Casaldáliga a fim de que nada se perdesse dessa enorme riqueza de evangélico testemunho. Dessa forma, sua primeira parte discorre sobre as grandes causas abraçadas por Casaldáliga: a Grande Pátria, a terra, os indígenas, os negros, as mulheres, os pobres, o diálogo interreligioso, os mártires, a Igreja e a causa de Deus. Sem peias, com liberdade, num tom profético de denúncia corajosa. Na segunda parte, outros tantos amigos revelam a personalidade não-manipulável e de extremo respeito dele com as coisas e com as pessoas. Nada o fazia temer nem parar quando a injustiça era causa de sofrimento dos pequenos, dos excluídos e dos sofredores. Esse sentimento de justiça, levado até o extremo, aliado à inteligência e coragem fora do comum (para um homem pequenino e franzino), fez-no crescer como um gigante na defesa do seu rebanho.
Resumo biográfico
Pedro Casáldaliga nasceu em Balsareny, Espanha, em 1928. Ingressou na Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria - conhecidos entre nós como claretianos - e se ordenou sacerdote em 1952. Exerceu o ministério sacerdotal durante 16 anos na Espanha. Poeta, escreveu inúmeros poemas de significado profundo, editados em vários livros e línguas, que revelam sua sensibilidade e fina percepção da natureza humana. Enviado por seus superiores para o Brasil em 1968, após alguns meses de adaptação no Rio de Janeiro, seguiu como missionário para São Félix do Araguaia, no Estado do Mato Grosso, no centro geográfico do Brasil, onde vive até hoje. Suas atividades pastorais para com o povo ribeirinho, camponeses e índios e sua capacidade de viver no meio deles chamaram a atenção do Vaticano. Paulo VI nomeou-o bispo, ampliando assim sua independência para um trabalho pastoral ainda mais eficiente. Sua sagração se deu às margens do rio Araguaia, a céu aberto, em 1971. No lugar da mitra, um chapéu de palha, do báculo, uma enxada. A miséria e as condições infra-humanas encontradas não lhe permitiam apresentar-se de outra forma numa terra paupérrima de 150 mil km², onde havia apenas um único posto de saúde para índios, com um médico que só ia lá de vez em quando.
Casaldáliga decidiu viver como pobre no meio dos pobres e fazer-se tudo para todos por mais de meio século. Mal compreendido pelas autoridades, foi perseguido e caçado para morrer. Gestões diplomáticas foram feitas várias vezes para levá-lo de volta à Espanha. Os coordenadores do livro são: Benjamín Forcano, Eduardo Lallana, José M. Concepción e Maximino Cerezo B. A editora é a Ave-Maria. O livro tem 432 páginas e custará 55 reai.Jornal de FatoCispiniano Prosa & Verso.
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