quinta-feira, 20 de maio de 2010

Escola dá exemplo em educação para surdos

Estudantes do 1º ano do ensino médio do Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices), em Fortaleza, são pioneiros no ensino de Libras com avaliações por teleconferência. A reforma pedagógica do Instituto é alternativa educacional para surdos no Ceará

Janaína Bras
Especial para O POVO



Imagine aprender uma segunda língua sem o recurso dos sons, memorizando os retratos das palavras no papel. Uma língua cujo acesso precisa extrapolar a barreira dos silêncios e avançar na decoreba de uma estrutura sintática bem diferente da língua com a qual você se expressa. Assim é o português para 1.520 alunos do ensino básico no Ceará: uma segunda língua - e das difíceis. Se é através da Língua Brasileira de Sinais (Libras) que eles se comunicam, nada mais natural que realizar provas na língua materna.

O Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices) é a primeira escola da rede pública estadual do Brasil a implantar o ensino médio exclusivo para surdos com avaliações bilíngues em todos os anos escolares. Na contramão da educação inclusiva, o Ices preza pelo respeito à primeira língua dos alunos, sem descuidar da formação em português, exigência para o acesso deles ao mercado de trabalho.

``A proposta é fortalecer o ensino desses alunos a fim de prepará-los para concursos e empregos``, adianta a diretora, Juliana de Brito. As versões visuais da prova foram filmadas por dois professores surdos do Instituto. Uma deles é Débora Vasconcelos, que, junto dos outros dez professores surdos da instituição, serve de inspiração para os alunos.

``Por favor, não escreva que sou muda. Sou Surda, com S maiúsculo. Esta é minha identidade. Posso dirigir um carro, comunicar minhas ideias, sou pós-graduada, tenho meu emprego. Não sou deficiente``, declara. Ela explica que a motivação em realizar a prova por teleconferência é simples: o aluno surdo nem sempre entende o texto em português, como o aluno brasileiro tem níveis de proficiência em inglês, por exemplo.

``O estado do Ceará mantém o plano de inclusão de acordo com a política nacional, mas deixa à família do aluno a escolha: escola regular ou escola exclusiva``, pontua o superintendente da educação especial das escolas estaduais de Fortaleza, Ernany Barbosa. A família do estudante José Felipe Nogueira, 19 anos, atualmente no 1º ano do ensino médio, prefere o ensino específico para a surdez do filho.

O garoto concluiu o ensino fundamental no Ices e começou o ensino médio em uma escola inclusiva. Quando soube que o Instituto abriria turma de 1º ano do EM, voltou para lá.

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