A copa de Natal
Há um orgasmo cívico na cidade dos reis gordos depois da confirmação de que Natal será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. No palanque subiram políticos de todas as ideologias e de nenhuma também. A governadora falou, a prefeita idem. Do Morro do Careca desceu a euforia que tomou conta da Praia de Ponta Negra, referência do turismo sexual da metrópole, aqui e acolá, a beira mar, o tráfego fácil de traficantes. De drogas, inclusive. A Polícia tem a ficha e todos. Sabe de tudo.
De Ponta Negra a euforia avançou pela cidade afora. Carnaval. Carnatal. Discursos e mensagens dos políticos. De repente, os canais de tevê já divulgavam as primeiras mensagens publicitárias do governo do Estado e da Prefeitura. Quatro anos antes da bola rolar na Arena das Dunas (o título é pomposo, sim senhor) o pessoal já começou a faturar. Basta conferir a mídia, confirmando que a copa é realmente um bom negócio. Gera renda e empregos, dizem seus padrinhos. Mais: vai projetar o nome de Natal pelo mundo, vasto mundo das ilusões. O turismo de Natal, dizem outros em abraços cívico$, vai faturar muito. Aliás, dizem que um dos argumentos favoráveis à escolha de Natal é de que a cidade tem uma senhora rede hoteleira. Casa cheia garantida, pois.
Em quatro anos o Poder Público e a chamada Iniciativa Privada darão as mãos e as pernas (não é futebol?) para se construir a Arena das Dunas, um imponente conjunto de edificações, começando pelo novo estádio (será derrubado o atual, o ginásio Humberto Nesi e tudo que estiver por perto, inclusive o Centro Administrativo, a sede do Governo), que vai custar coisa que passa de um bilhão de reais. Depois da Copa, tudo aquilo passará a ser controlado (e faturado) pela chamada Iniciativa Privada por mais de trinta anos. Toda aquela área Lagoa Nova será privada: hotéis, supermercados, prédios de apartamentos, o escambau. Mas a infraestrutra será custeada, aí sim, pelos cofres públicos.
Natal jamais será a mesma. Nos hospitais públicos não faltarão mais, jamais, nem esparadrapo nem mercúrio cromo; nos centros de saúde emperrados na periferia não faltará mais papel higiênico. No Pronto Socorro as macas desaparecerão dos corredores superlotados de enfermos. Os centros cirúrgicos funcionarão vinte e quatro horas, a todo vapor, com especialistas à disposição dos pacientes da Capital e do Interior.
As escolas públicas darão um grande passo de qualidade, de fazer inveja ao poeta Olavo Bilac. A Segurança Pública seguirá o exemplo da que se pratica na Suíça. Aqui será uma nova Suíça. Os buracos das ruas de Natal serão todos tapados e todas as avenidas e ruas (todas) asfaltadas e recapeadas. As estradas que vão para o interior, idem. Não haverá lixo a céu aberto, nem fechado. Nos cruzamentos das avenidas não teremos mais o comércio de frutas e de água mineral. As calçadas não serão mais invadidas pelos camelôs. Fala-se num metrô interligando os bairos e os municípios vizinhos. O Aeroporto de São Gonçalo recebendo aviões do mundo inteiro para ver a nossa Copa, a nossa Cidade.
A Copa do Mundo (são três jogos) em Natal vai gerar emprego e renda (muito emprego e muita renda) e muita projeção para a cidade dos três reis gordos. Quando a Copa for encerrada, o nosso futebol será um dos mais fortes do país. Na Arena das Dunas, um novo palco internacional para outros clássicos: um ABC e um Alecrim; Assu e Santa Cruz do Inharé; Baraúna de Mossoró e América. Natal a nova potência das Américas. Uma cidade rica e feliz.
Woden Madruga T. Norte
Woden Madruga T. Norte
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