APODI, POESIA DE ONTEM E HOJE
15/01/2009
Com determinação e trabalho, fundou o Jornal O Nordeste, que circulou até 1934, tornando-se dessa maneira o maior escritor de jornais de Mossoró
Daniel Macx da Costa
Especial para o Expressão
Apodi mostra do alto da serra, lugar onde no inverno cobre-se de um verde fenomenal e esplendoroso, a sua maior riqueza: o seu povo, que ergue suas construções, seu comércio, seu lar, sua vida, em meio a muita beleza.
A terra da Lagoa (poluída, mas ainda bela), do Vale, da Chapada, do Lajedo e da Barragem, tem sua maior expressividade em seu povo, acolhedor e gentil. Nesse povo, abrem-se como lírios numa relva magnífica os seus escritores e poetas, tantos são que não me detenho a nomeá-los ou tão pouco classificá-los, porém, nessas linhas citarei a obra de dois deles: José Martins de Vasconcelos e Maria Luiza Marinho da Costa.
Apodi vive, hoje, problemas maiores que a falta de apoio, reconhecimento a sua poesia e a toda produção escrita existente no município. Isso não torna vingativos os valentes que escrevem, visto que, esses muitos, em seus textos, sempre usam seu punho para valor e exaltação da "pequena amada".
Sobre as belezas e os (des)encantos de Apodi dissertam, e muito bem, os dois poetas acima mencionados. José Martins de Vasconcelos, nascido na cidade em 1874, mas que morou desde os 11 anos em Mossoró. Tentou a vida de várias maneiras, foi menino de recado, entregador de jornais, dentre outras funções, até perceber por si próprio que a única forma de mudar de vida era estudando; comprou um dicionário e aplicou-se nos estudos a fim de descobrir a arte do "ABC". A convivência longe de Apodi não o fez esquecer a terra amada onde nascera.
Com determinação e muito trabalho fundou o jornal O Nordeste, que circulou até 1934, tornando-se dessa maneira o maior escritor de jornais de Mossoró, já que escrevia até mesmo nos Jornais Estudantis que circulavam manuscritos. José Martins de Vasconcelos nunca deixou de falar da cidade natal, em sua poética estão presentes os lugares de destaque, como no caso do Hino do Município, do Hino do Bicentenário de Apodi, e ainda em vários outros poemas, caso de "Minha Terra (Apodi)" que analisaremos: Vinha de longe, de outras terras vinha./ Cismando em ti, a luz d'um sol candente, / Quando visei-te no tapiz florente, /Formosa e altiva, ó meiga terra minha. / Vi-te cingindo um arrebol que tinha / Uns nimbos de ouro sob o céu ridente; / Ria a teus pés um estendal virente / De um lago ameno, aonde o amor se aninha! / Via a igrejinha de São João Batista, / Nosso patrono; e a capelinha antiga / Do cemitério, onde eu fui batizado. / Quanta saudade nessa tarde quista / Tive de ti, como de quadra amiga. / De minha infância, ó meu torrão amado. / Mossoró, 08 de agosto de 1903
No poema, José Martins de Vasconcelos fala de sua terra, destaca lugares que ele pôde visualizar do alto da serra, e conta sobre lembranças do passado em sua meiga Apodi. Os versos, de linguagem rica e culta, fazem uma exaltação à cidade.
Relacionemos o soneto de José Martins de Vasconcelos com o poema "Acorda, Apodi!", de Maria Luiza Marinho da Costa, uma poetisa contemporânea que vive em Apodi e lançou há não muito tempo o seu livro: Vozes de um coração, trabalho que reúne os seus melhores poemas. A obra fala sobre sofrimento, alegria, desafios, desejos e é alicerçada nas suas experiências de vida. Além de trazer poemas, assim como José Martins de Vasconcelos, que realçam as maravilhas de Apodi, o detalhe que nos chama atenção é que o referido poema traça um paralelo entre os encantos e desencantos da cidade. Ao mesmo tempo em que a poetisa fala de uma beleza existente em Apodi, faz uma crítica ferrenha ao modo como a cidade deixou-se abater pelos problemas sociais. "Acorda, Apodi! / Terra mui querida / jamais esquecida / pelos que passam por aqui / Acorda, Apodi! / Vence a prostituição / às drogas diga "NÃO!" / antes que o mal / te trague / te estrague / te acabe / e você desabe. (...)"
Em Acorda, Apodi! A poetisa parece inebriar-se de um sentimento misto de angústia e desalento ao ver a terra natal banhada por um mar de coisas ruins. Ao final do poema, ela tenta mostrar qual a solução para a cidade, que já agoniza e pede socorro, deixando transparecer o fator religioso e mostrando para Apodi que ainda existe uma esperança.
Contudo, nos dias de hoje, Apodi não deixou de ser bela, as suas paisagens são as mesmas de José Martins de Vasconcelos e Maria Luiza Marinho da Costa, porém, o descaso aos poetas e os problemas sociais crescem paralelamente à cidade. Para mudar o quadro resta-nos dizer: Acorda! Meiga terra minha!
Expressão
Gazeta do Oeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário