Receita de uma campanha corrupta
Postado por Imprensa Local 05-09-2010 as 01:50
Artigo da Roda Viva, no Novo Jornal
O Rio Grande do Norte pode estar oferecendo ao Brasil o melhor retrato da nova política brasileira, forjada no assembleísmo sindical, segmento que vem aumentando sua presença a cada dia e ocupando os principais postos. O conjunto de vídeos da vereadora sargento Regina “ficha suja” disponibiliza – do no Youtube não parece contaminado pela indução de algum corruptor, ou “pegadinha” de indução ao erro para afastar possível concorrente.
É uma confissão na sua mais pura acepção. Retrata uma reunião deliberativa, onde se planeja uma campanha eleitoral como poderia estar se planejando um assalto a um banco. Mesmo sem data do evento gravado, é evidente que se trata de uma reunião – com mais de uma dezena de participantes – onde se planeja uma campanha eleitoral no âmbito sindical, no caso Associação de Cabos e Sargentos da Polícia Militar.
É importante identificar a origem do projeto (projeto de uma candidatura a Deputado Estadual) da vereadora Mary Regina (PDT) retratado por ela, e sem merecer qualquer contestação ou reparo dos presentes, muito provavelmente integrantes da cúpula da entidade: “nós temos para esta campanha de 2010, 5.498 votos para negociar. É hora de negociação política. E na política só se conhece esse linguajar e essa maneira de agir. É chegar e negociar. Eu tenho tanto, me dê tanto, e acabou”.
Em vez de fomentar o bem comum, para esse grupo (e não, apenas, Regina) fazer política é fazer negócio. Toma lá dá cá. Voto é mercadoria e, dependendo do freguês precisa de pagamento antecipado: “Não da forma que Álvaro Dias (presidente do Partido) quer: bancar 50% de nossa campanha. Se for o caso, fazemos um acordo para ele pagar adiantado.
Tem a apresentação do orçamento (de R$ 700 mil) para a execução do projeto, não havendo limites (legal ou ético) nem na captação nem a aplicação dos recursos: “sem esse dinheiro é melhor não ir”. E mostra uma “folha de pagamento” de R$ 25 a 30 mil por mês “só para o pessoal do Interior. Depois veríamos o que fazer na capital”.
Trata-se de um tipo de conduta que justifica até uma “negociação financeira para mim porque eu tive um desgaste pessoal”. E ressalta que o acerto com o Presidente da Câmara, Dickson Nasser “não tem nada a ver com o meu gabinete. É um acordo para embolsar R$ 10 mil, mas, não é isso, fi ca três mil e poucos do imposto de renda. Só que não consegui fazer nada do que queria. Eu queria comprar um apartamento. Eu ia começar a pagar minhas contas, não consegui”.
É a banalização do por fora. Da bola, que se tenta coibir no comportamento de agentes púlicos Distribui juízos sobre eventuais aliados: 1 – Zé Agripino: “Foi péssimo governador para a categoria, mas quem foi bom? Wilma tá sendo boa? Massacrar mais a Polícia do que Wilma fez desde 2003 pra cá”; 2 – Vereador Raniere Barbosa (PRB): “Um homem riquíssimo. Raniere é milionário, foi secretário de Carlos Eduardo, deve ter roubado o que quis e o que não quis e o que deixou de querer”; 3 – George Câmara (PC do B): “Possui 30 indicações no Governo do estado. Tem o sindicato (dos Petroleiros) a favor dele, que praticamente elegeu ele. Não é nenhum coitadinho”.
Mais do que as confi ssões de uma política corrupta, as gravações de “Sargento Regina – ficha suja”, mostram o lado submerso da nova política, não na visão de um político aposentado ou de candidato desiludido e sem chances. Mas a concepção de um grupo organizado (com capital de 5.489 votos) que combate as famílias tradicionais para substituí-las por outra família, “a família da Polícia”. – A família da corporação.
O Youtube revela a lição de como essa “famiglia” se prepara para ampliar seus espaços, seguindo o mesmo modelo que consagrou o Caixa 2 como normal ( e assume o uso de “recursos não contabilizados”); usa dinheiro sem origem para comprar dossiê contra adversários; convive com a violação do sigilo fiscal de concorrentes ou do sigilo bancário de um caseiro incômodo e se defende customizando o ilícito e o ilegal porque “política é assim mesmo”.
Não é. Ou, pelo menos, não deveria ser. – Com a palavra o Ministério Público.E, também, a sociedade organizada. – Mary Regina é só uma célula de um mecanismo que cresce desordenadamente na passividade da maioria silenciosa e acomodada.
Do Blog de Janeayre Almeida
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