A maré alta do PT, segundo o Valor
Tendência é de votação superior à de Lula em 2002 e 2006
Cristian Klein, de São Paulo
A disparada de Dilma Rousseff nas pesquisas divulgadas no fim de semana, além de desenhar uma vitória governista no primeiro turno, revela um fenômeno pouco previsível até o início da campanha. A candidata desconhecida da maioria da população, que nunca concorreu a um cargo eletivo, mas foi escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo, já teria hoje uma votação maior do que a de seu padrinho político. Mais: a candidatura Dilma retomou todos os Estados perdidos para a oposição na eleição de 2006, numa repetição da chamada “onda vermelha” de 2002, só que ainda mais forte. De acordo com levantamento feito pelo Valor, na maioria dos Estados nordestinos, por exemplo, o PT está aumentando largamente a vantagem sobre o PSDB obtida nas eleições de 2002 e 2006, num desempenho mais semelhante a uma bola de neve do que ao de uma onda.
Com os 59% de preferência dos votos válidos, verificados na última pesquisa Ibope, Dilma Rousseff – projetados os índices estáveis de comparecimento e votos válidos das últimas eleições – já teria pelo menos 60 milhões de votos. No segundo turno de 2006, Lula amealhou 58.295.042 de votos, marca histórica em disputas presidenciais no país.
Se a eleição fosse hoje – considerando um total de 101.853.325 de votos válidos (equivalente à taxa verificada nos últimos pleitos, de 75% do total de aptos a votar, que serão 135.804.433) – Dilma ultrapassaria o recorde, com 60.093.462 de votos. Seria um feito, mesmo considerando que houve crescimento do eleitorado, pois a petista obteria a marca já no primeiro turno, quando há mais concorrentes na disputa.
A façanha pode ser ainda maior em termos percentuais. Neste caso, o apoio a Lula no segundo turno, em 2006, foi de 60,8% e, em 2002, ainda maior, de 61,3%. Dilma Rousseff está com 59%, mas, segundo o Ibope, 12% do eleitorado ainda não sabe que a candidata é apoiada pelo presidente. Ou seja, há uma margem de crescimento que poria Dilma à frente de seu fiador.
Isso mostra que a ex-ministra-chefe da Casa Civil, apesar da inexperiência política e da falta de recall eleitoral, não atrapalhou a transferência de apoio de Lula para a sua candidatura. Pelo contrário. A tão debatida capacidade de o presidente transferir votos para sua apadrinhada ocorre numa escala que supera qualquer prognóstico feito no ano passado.
É o que se verifica quando são analisados os dados referentes às intenções de voto para a candidata do governo e para seu adversário da oposição, José Serra (PSDB), em relação aos resultados das disputas entre petistas e tucanos, em cada unidade da federação, nas últimas eleições.
Lula, Dilma, PT e a aliança reforçada agora pelo PMDB estão retomando regiões inteiras perdidas no pleito pós-mensalão de 2006. É o caso dos Estados do Sul e do Centro-Oeste, e de São Paulo. Nestas regiões, grandes desvantagens de votos de Lula para o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin – algumas de até 23 pontos percentuais, como em Santa Catarina – podem se converter, de acordo com as últimas pesquisas do Ibope nos estados, em dianteira de 13 pontos percentuais, em Goiás, e de até 25, como no Distrito Federal.
Em São Paulo, a desvantagem de 17 pontos percentuais entre Lula e Alckmin, em 2006 – que representou uma diferença de quase 4 milhões de votos – agora gira em torno de 8 pontos a favor de Dilma em relação a Serra.
Nestes Estados, há uma virada do jogo em territórios tradicionalmente mais férteis ao PSDB. Já no Nordeste, a candidatura Dilma está ampliando fortemente o apoio já obtido nas eleições de 2002 e 2006. Alagoas é um caso exemplar. Única unidade da federação vencida pelos tucanos em 2002, por uma pequena margem de diferença, de menos de um ponto percentual, o Estado, quatro anos depois, deu uma vantagem de 8,8% para Lula. Agora, a candidatura Dilma já abre uma diferença de 42 pontos em relação a Serra. Em outros Estados, como Bahia, Pernambuco e Piauí, a petista tem a perspectiva de ampliar em mais de 10 pontos o apoio recebido por Lula em 2006.
No Rio de Janeiro, a vantagem para os tucanos aumentou de 20 para 50 pontos. Em Minas Gerais, a diferença subiu de 10 para 31.
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Continuísmo atinge eleição para governador
A maré favorável ao PT e aos aliados se reproduz nas eleições para governador. Candidatos apoiados pelo governo federal lideram em 13 estados. Concorrentes oposicionistas estão à frente em sete disputas e em outros sete estados a situação é de empate.
Na maior parte dos Estados, há uma correspondência entre a eleição presidencial e as regionais. Onde Dilma tem preferência maior do eleitorado, candidatos apoiados pelo governo federal estão liderando. As exceções mais notáveis são o Pará, onde Simão Jatene (PSDB) está à frente e desafia a reeleição de Ana Julia Carepa (PT), e o Rio Grande do Norte, onde Rosalba Ciarlini (DEM) está batendo nas pesquisas Iberê (PSB), também candidato à reeleição.
Estas, no entanto, também são exceções quando se observa como estão as chances dos atuais mandatários. A maioria dos governadores que tentam a reeleição deve confirmar o favoritismo. Além de Iberê, apenas Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul, tem chances remotas. Dos 20 governadores que tentam novo mandato, 10 lideram com folga e outros oito estão numa disputa mais acirrada pela manutenção da cadeira.
Dos 10 com larga vantagem para a reeleição, cinco são do PMDB – Roseana Sarney (MA), André Puccinelli (MS), José Maranhão (PB), Sérgio Cabral (RJ) e Carlos Gaguim (TO) -; outros dois são do PT – Jaques Wagner (BA) e Marcelo Déda (SE) – e dois são do PSB – Cid Gomes (CE) e Eduardo Campos (PE).
Mas é o PSDB o partido que aparece mais bem posicionado nas disputas estaduais. Além de também ter cinco candidatos liderando com folga, o partido tem mais seis com boas chances, em disputas apertadas. É o caso de Minas Gerais, onde o governador Antonio Anastasia ultrapassou Hélio Costa (PMDB), na maior arrancada até agora nas brigas estaduais. Justamente no Estado em que a poderosa aliança entre PT e PMDB foi uma questão de honra.
É mais um exemplo do clima de continuidade que paira nestas eleições e um contraponto à maré vermelha. Mas, juntos, os dois fenômenos parecem acelerar a construção da maioria: 17 disputas devem terminar já no primeiro turno. (CK)
Do Jornal Valor Econômico
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