Cooperar para crescer
O sertanejo é que nem abelha, quanto maior o enxame, maior será a produção de mel. É pensando no sistema de organização e produção das abelhas que os agricultores do semiárido potiguar vêm transformando sua realidade. Primeiro dividiram o Estado em Territórios, depois em Unidades territoriais e microrregionais. Essa divisão fortalece as relações entre as associações e aprofunda a base do desenvolvimento a partir da agroecologia.
Unidos, os agricultores alçam voos muito mais altos, aumentam a produção e agregam valor aos produtos comercializados. Em Apodi, duas cooperativas da agricultura familiar conseguiram mudar a história da produção apícola no Rio Grande do Norte, graças ao seu grau de organização e comprometimento. De acordo com um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntas, a Cooperativa da Agricultura Familiar de Apodi (COOAFAP) e a Cooperativa Potiguar de Apicultura (COOPAPI), comercializaram sozinhas, 500 toneladas do alimento em 2008, dando ao município-sede, o status de segundo maior produtor de mel do país.
Apodi tem 500 apicultores registrados, desses, 428 são membros das duas cooperativas: 205 da Coopapi e 223 da Cooafap. "Uma questão importante é que trabalhamos com uma política participativa que valoriza o meio ambiente, visto que só utilizamos produtos orgânicos e naturais", esclarece seu Titico, sócio da Cooafap.
Referência no Estado desde 2005, a Coopapi foi construída dentro de um processo que durou quatro anos. Tudo começou em 2000 com a fundação da primeira associação apodiense de apicultura. Dois anos depois, durante o primeiro seminário apícola do Território Sertão do Apodi, foi formado um fórum de discussão, que tinha como propósito, achar uma saída para a comercialização do produto. 12 meses de discussão mais tarde, apicultores de 20 municípios do Estado realizaram sua primeira capacitação em cooperativismo, que teve como produto final - três meses depois - o estatuto da Coopapi.
A primeira produção da Cooperativa foi comercializada em 2004. 3.700 kg de mel foram vendidos para a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Achando pouco, a presidência abriu as portas, aumentando o número de sócios para 100, o que fez a produção crescer, no ano seguinte, para 50 toneladas. "Depois desse ano, aprendemos o caminho das pedras" contou Fátima Torres, presidente da Coopapi. Hoje a produção média dos 205 cooperados é de 220 toneladas de mel, a maioria é exportada para os Estados Unidos (EUA).
Expandindo os saberes
Crescer sozinho não é propósito de sertanejo. Com o sucesso contínuo na comercialização do mel, a Coopapi se especializou em compras governamentais e foi convidada pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) a ser Base de Serviço de Apoio à Comercialização (BSC) para ajudar a outras entidades do setor a comercializar os seus produtos.
No final de 2008, a Cooperativa modificou seu estatuto e passou a negociar com todos os produtos da agricultura familiar. Percebendo que os seus sócios também eram produtores de castanha de caju, passou a investir no setor, trabalhando a cadeia produtiva (doce, ração, poupa e amêndoa) conseguindo comercializar, no mesmo ano, 105 toneladas de castanha de caju.
Para ampliar esse mercado a Coopapi assumiu uma mini-fábrica instalada no sítio Córrego, zona rural de Apodi, agregando seus 25 sócios num novo projeto. Agora em 2010 a Coopapi passará a atuar como central de comercialização das 10 minifábricas de amêndoas de castanha de caju, construídas pelo Projeto de Geração de Renda, Trabalho e Cidadania, em 10 municípios do interior potiguar.
O planejamento, segundo Fátima Torres, é produzir 360 mil quilos de amêndoas por ano, gerando uma receita bruta de R$ 4.3 milhões só com este produto. Eujânio Geracino, 21, responsável pelo escritório da minifábrica do Córrego, comemora os dados e o emprego que mantém sem precisar abandonar a comunidade onde mora com os pais. "Tudo isso aqui já está muito pequeno para a nossa produção", completa Eujânio, se referindo à estrutura da minifábrica que, segundo ele, precisa ser ampliada logo.
Cooperativas de mãos dadas
Neste ano, 19 cooperativas da agricultura familiar do Rio Grande do Norte decidiram se unir à União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES), criando a unidade estadual. Fátima Torres, que responde como diretora de formação dessa nova entidade, disse que a intenção é fortalecer a luta pela nova Lei do cooperativismo no Brasil. "O lucro do agricultor precisa ficar da porteira para dentro", enfatiza a diretora.
Adequando-se aos estrangeiros
Georreferenciamento, fluxograma e rastreabilidade do mel. Essas são as novas exigências do mercado internacional para manter os contratos na região Oeste do Rio Grande do Norte. Os compradores querem acompanhar todo o procedimento, da produção ao processamento do alimento pela internet. Para se adequar às exigências, a Coopapi está construindo um entreposto de mel que ganhará o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF).
J. Paiva Joral de Fato
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