Na viagem entre Paulo Afonso e Petrolina seguindo o Rio São Francisco – primeiro na Bahia e depois em Pernambuco, a paisagem pouco se modifica: predomina a caatinga seca do sertão pontuada por algumas roças de milho, feijão e mandioca.
O Velho Chico – apelido do grande rio que nasce em Minas Gerais e vem banhando Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe até desaguar no Atlântico – coloca a população ribeirinha em uma situação melhor do que os sertanejos de recantos mais afastados, mas não foi suficiente para desenvolver uma agricultura forte.
A situação muda completamente na chegada a Petrolina, cidade pernambucana na divisa com a Bahia, um dos melhores exemplos de que bons projetos de irrigação e ocupação da terra no sertão brasileiro pode deixar de ser sinônimo de miséria e se tornar um produtor de riqueza.
"De 1970 até 1996 o PIB médio dos 65 municípios do médio São Francisco cresceu menos de três vezes, passando de US$ 11 milhões para US$ 30 milhões. Em Petrolina o PIB que já era de US$ 75 milhões chegou a US$ 464 milhões", disse o chefe da divisão de Planejamento da Superintendência Regional da
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), em Petrolina, Zacarias Lourenço Vaz Ribeiro.
Concentração de riqueza
"Não há nenhum outro fator sócio-econômico além da irrigação que possa explicar o crescimento neste período."
Ribeiro disse que o Codevasf está agora coletando dados para também traçar a evolução dos dados sociais e ambientais dos 65 municípios.
O pesquisador explica que – embora o estudo ainda esteja sendo preparado – já é possível também perceber uma distorção na região que precisa ser resolvida: a concentração de riqueza.
"Do mesmo modo que no Brasil a riqueza está concentrada no Sul e no Sudeste, aqui nesta região ela se concentrou em Petrolina. Precisamos desenvolver novos projetos de irrigação que também melhorem a vida das pessoas nos outros municípios desta área", explicou.
Os projetos de irrigação em Petrolina são divididos em grandes perímetros administrados por um Distrito de
Irrigação. O distrito é administrado como uma empresa de propriedade dos agricultores que têm lotes na área.
O maior destes perímetros é o Nilo Coelho – nome dado em homenagem ao senador pernambucano, falecido em 1983, que teve grande peso na implantação da irrigação – que iniciou suas atividades em 1984.
O gerente-executivo do perímetro, Danilo Barreto, explica que hoje há 18 mil hectares de área irrigada dentro do perímetro.
"Mas na verdade chega a mais de 20,4 mil hectares porque há agricultores que expandiram a área irrigada por conta própria. Os produtores melhoraram a tecnologia de irrigação e com os mesmos 5 metros cúbicos de água por hectare que fornecemos conseguiram irrigar mais terrenos em volta."
Por lá cultiva-se principalmente coco, banana, acerola e goiaba para atender o mercado brasileiro, mas vedetes são a uva e a manga, direcionadas para a exportação.
Exportação
"Temos uma variedade de uva sem semente que vendemos só no mercado externo. Na Europa e nos Estados Unidos pagam US$ 2 (R$ 6) por quilo enquanto aqui no Brasil ficaria em R$ 1", me
explicou.
O técnico agrícola Ramos Nogueira me levou para conhecer algumas das plantações no perímetro. No caminho, ele aponta desapontado para algumas plantações mais mirradas.
Segundo ele, fruto do desinteresse de alguns colonos que se contentam com uma agricultura de subsistência.
Mas na Fazenda da Família, de José Ribeiro, a produção de cocos, goiabas e mangas está a todo vapor. O produtor começou a trabalhar a terra há treze anos, quando comprou um lote de 6 hectares.
"Esse sertão todo tem um potencial muito grande. O que precisa por aqui é menos politicagem e fazer política direito."
Ribeiro diz que os produtores têm de se organizar para acabar com a necessidade de atravessadores para que eles cheguem aos mercados de frutas.
Visitei também a Fazenda Juliana, que já tem 36 hectares de área plantada, o que a qualifica como uma empresa e não mais uma colônia.
O gerente Valmir Gomes me mostra os grandes cachos de uva vendidas a duas grandes redes de supermercado brasileiras.
"Olha só estas parreiras. Se não tivesse irrigação a gente só estaria vendo aqui um monte de mato seco e retorcido", me diz. "Igual nas caatingas que tem em volta das plantações."
Paulo Cabral, enviado especial a Petrolina
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