Quem são
os organizadores de um protesto contra Dilma Rousseff no Dia da Independência
Bolsonaro.
O problema é que parte dos organizadores da manifestação anda com problemas na Justiça
e no MP
s
manifestações de junho começaram com a defesa do transporte público gratuito e
de qualidade por militantes do Movimento Passe Livre (MPL), mas depois tomaram
rumos novos e uma proporção inesperada. Aglutinados pelas redes sociais da internet, milhares de jovens foram às ruas contra
“tudo isso que está aí”, sobretudo os partidos políticos. Nas mesmas redes
sociais há quem tente articular outra explosão de protestos, agora no Dia da
Independência. Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao
contrário dos acontecimentos de junho, o movimento nada tem de apartidário.
O alvo da
“Operação Sete de Setembro” é a presidenta Dilma Rousseff. O caráter
político-ideológico da “operação” fica claro quando se identificam alguns de
seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos consta uma ONG
simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio de Janeiro, os
Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia Legislativa e do
PSDB paranaenses, Valdir Rossoni. É uma patota e tanto. Envolvidos em algumas
denúncias de corrupção, não surpreenderia se eles mesmos virassem alvo de
protestos.
A ONG em
questão é a Brazil No Corrupt – Mãos Limpas, sediada no Rio. Seus principais
integrantes são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da Fonseca e seu
filho, Fábio Pinto da Fonseca. Há cinco anos eles brigam nos tribunais contra a
Ordem dos Advogados do Brasil na tentativa de acabar com a exigência de uma
prova para obter o registro de advogado. Os dois foram reprovados no exame da
OAB. Em sua página na internet e no Twitter, a ONG promove a “Operação Sete de
Setembro” e a campanha Eu não voto em Dilma: Eleição 2014, Brasil sem PT.
Um dos
principais parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado estadual fluminense
Flávio Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele compartilha informações, opiniões e
iniciativas da ONG. A dobradinha extrapola o mundo virtual. Bolsonaro comanda
na Assembleia do Rio uma frente para acabar com a prova da OAB. Em Brasília, a
ONG conseguiu um neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, que encampou a ideia de extinguir o exame.
Filho do
deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do pai, célebre
representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são contra o casamento
gay, as cotas raciais nas universidades e os índios. Defendem a pena de morte e
a tortura. Chamam Dilma de “terrorista” por ter ela enfrentado a ditadura da
qual eles sentem saudade. “Naquele tempo havia segurança, havia saúde, educação
de qualidade, havia respeito. Hoje em dia, a pessoa só tem o direito de quê? De
votar. E ainda vota mal”, declarou o Bolsonaro mais jovem não faz muito tempo.
A ONG
adota posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua página na
internet, um vídeo batiza de “comissão da veadagem” alguns dos críticos da
indicação do pastor Marco Feliciano para o comando da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de teor racista contra nordestinos,
no qual o potencial candidato do PT ao governo do Rio, o senador Lindbergh
Farias, nascido na Paraíba, é chamado de... “paraibano”.
A
agressividade no trato com os semelhantes custou aos Fonseca uma denúncia à
Justiça elaborada pelo Ministério Público Federal no ano passado. Pai e filho
foram acusados de caluniar o juiz federal Fabio Tenenblat. Em 2009 e 2010,
ambos entraram na Justiça com duas ações populares contra o exame da OAB e o
então presidente da entidade no Rio, Wadih Damous. A segunda ação parou nas
mãos de Tenenblat, que a arquivou em julho de 2011. Na sentença, o juiz acusa
os autores de “litigância de má-fé”, pelo fato de manterem outra ação
semelhante. “O dolo, a deslealdade processual e a tentativa de ludibriar o
Poder Judiciário são evidentes”, anotou.
Na
apelação levada ao juiz para tentar reabrir o caso, os Fonseca e seu advogado,
José Felicio Gonçalves e Souza, acusaram Tenenblat de favorecer a OAB “por
tráfico de influência ou por desconhecimento”, o que “demonstra claramente sua
parcialidade e má-fé como magistrado”. Em maio de 2012, os três foram
denunciados pela procuradora Ana Paula Ribeiro Rodrigues por crime contra a
honra. Em novembro, um acordo suspendeu o processo por dois anos. Os acusados
foram obrigados a se retratar publicamente, a se apresentar à Justiça de tempos
em tempos e a pedir autorização sempre que pretenderem deixar o Rio por mais de
30 dias. Também levaram uma multa. Se descumprirem o acordo, o processo será
retomado.
Ari
Cristiano Nogueira, outro ativo incentivador nas redes sociais da “Operação
Sete de Setembro”, também está na mira do Ministério Público. Morador de
Curitiba, é investigado por promotores estaduais por supostamente ser
funcionário fantasma do gabinete do deputado Rossoni.
Nogueira
é um ativo militante na internet sob o pseudônimo Ary Kara. Por meio do
Twitter, foi o primeiro a circular, em meados de julho, a notícia de que Dilma
teria recebido na eleição de 2010 uma doação de 510 reais de uma ex-beneficiária
do Bolsa Família, chamado por ele de “bolsa preguiça”. Dias depois, a doação,
registrada na prestação de contas de Dilma entregue à Justiça eleitoral, virou
notícia nos meios de comunicação. O Ministério do Desenvolvimento Social
acionou a doadora, Sebastiana da Mata, para saber se a contribuição era dela
mesmo. Ela negou.
Por
Twitter e Facebook Nogueira é um dos difusores da convocação para o “maior
protesto da história do Brasil”, em 7 de setembro. Sua página no Twitter é
ilustrada com o dizer “Partido Anti Petralha”, forma depreciativa de se referir
aos militantes petistas bastante difundida na rede de computadores. No Orkut,
define-se como “conservador de direita” e manifesta preferência pelo PSDB. Até
junho de 2012, era assessor do presidente do partido no Paraná, como contratado
na Assembleia. Deixou o gabinete para trabalhar na campanha à reeleição do
então prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que concluía o mandato herdado em
2010 do atual governador do Paraná, o tucano Beto Richa.
Em 2010,
uma série de denúncias levou o MP estadual a abrir um inquérito para apurar uma
lista com mais de mil supostos funcionários fantasmas na Assembleia. Nogueira a
integrava. Desde então, alguns suspeitos foram denunciados e julgados. O caso
de “Ary Kara” segue em aberto. O promotor Rodrigo Chemim aguarda uma
autorização judicial para quebrar o sigilo bancário do investigado. Espera
ainda por respostas de empresas de segurança onde Nogueira teria trabalhado,
enquanto deveria dar expediente no Parlamento estadual.
Rossoni, antigo patrão de Nogueira, foi investigado pelo Ministério Público por uso de caixa 2 na eleição de 2010, pois parte dos gastos de sua campanha não estava comprovada. Ao julgar o caso em agosto do ano seguinte, o Tribunal Regional Eleitoral reconheceu a existência de despesas de pagamento sem a devida comprovação, mas os valores foram considerados baixos e o deputado acabou absolvido por 4 votos a 2.
Rossoni, antigo patrão de Nogueira, foi investigado pelo Ministério Público por uso de caixa 2 na eleição de 2010, pois parte dos gastos de sua campanha não estava comprovada. Ao julgar o caso em agosto do ano seguinte, o Tribunal Regional Eleitoral reconheceu a existência de despesas de pagamento sem a devida comprovação, mas os valores foram considerados baixos e o deputado acabou absolvido por 4 votos a 2.
Reeleito
à presidência da Assembleia, o tucano foi recentemente acusado de receber
benefícios de empresas donas de contratos de rodovias privatizadas no Paraná.
Durante mais de dois anos, o parlamentar conseguiu barrar a criação de uma CPI
do Pedágio no estado. Perdeu, porém, a guerra. A comissão parlamentar de
inquérito foi instalada no mês passado. •
Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário