Enquanto
no Brasil o Bolsa Família caminha sob fogo cerrado, entre boatos e bordoadas, a
Organização Internacional do Trabalho (OIT) acaba de ressaltar em seu relatório
sobre o Mundo do Trabalho em 2013, a importância fundamental do projeto em
tempos de crise.
Somado
aos seguidos aumentos reais do salário mínimo, o Bolsa Família ajudou a
vitaminar o crescimento da classe média no país em 16%, entre os anos de 1999 e
2010.
Para a
OIT, um salário mínimo sólido e mecanismos efetivos de transferência de renda
têm sido as ferramentas mais importantes para superar a pobreza.
Os
resultados brasileiros tiveram ainda maior relevância na análise do cenário
mundial, comparados com a compressão quase global da classe média que aparece
como um dos efeitos perniciosos da crise econômica.
O
relatório divulgado nessa segunda-feira, em Genebra, mostra que os grupos de
renda média estão encolhendo na maioria das economias avançadas, consequência
de um desemprego de longa duração. Na Espanha, por exemplo, a classe média já
reduziu de 50% para 46% desde o início da crise.
O que se
pode constatar, ainda pelo estudo, é que os efeitos da crise econômica estão
longe de se distribuírem de forma equitativa na sociedade.
As
desigualdades de renda aumentaram entre 2010 e 2011 em 14 das 26 economias
desenvolvidas, incluindo França, Dinamarca, Espanha e os Estados Unidos. Os
níveis de desigualdade em sete dos doze outros países analisados foram ainda
maiores do que eram antes do início da crise.
Nos
Estados Unidos, por exemplo, os 7% mais ricos da população tiveram aumento de
seu patrimônio líquido durante os dois primeiros anos da recuperação, de 56% em
2009 para 63% em 2011; os restantes 93% dos norte-americanos, ao contrário,
viram seu patrimônio só declinar.
A
principal justificativa tem sido o crescimento dos níveis de desemprego
–justamente o que não tem acometido o Brasil, que contou ainda com aumentos
reais de salários em média de 4% em 2012.
A OIT
realça também a importância dos mecanismos de ampliação de emprego formal,
citando especificamente projetos empreendidos na Argentina e Costa Rica.
No lado
rico do mundo, a mesma disparidade entre indivíduos se repete na relação de
grandes e pequenas empresas.
A maioria
das grandes empresas já recuperou o acesso aos mercados de capitais, mas as
pequenas estão sendo desproporcionalmente afetadas pelas condições de crédito
bancário. Este é um problema grave para a recuperação imediata de trabalho que,
segundo a organização, afeta em muito as perspectivas econômicas de longo
prazo.
E
enquanto a crise se aprofunda nas economias centrais, a tal ponto que a OIT
afirma que "a situação em alguns países europeus está começando a forçar o
seu tecido econômico e social”, a avaliação sobre a América Latina dá conta de
que a região registrou uma diminuição do risco de ‘descontentamento social’
entre 2007 e 2012.
A recente
vitória da diplomacia brasileira, e dos países emergentes sobre
norte-americanos e europeus na OMC, como se vê, não foi à toa.
As
economias avançadas estão cada vez mais longe do papel de farol na crise, ainda
que continuem sendo exemplos que magnetizam as elites periféricas.
Assim,
embora o Brasil seja destaque internacional pela ampliação da classe média e a
superação da pobreza durante a crise, continuamos a difundir por aqui o
catastrofismo e a replicar, no quase-consenso da grande imprensa, fórmulas
preparadas justamente por quem provocou o tormento e se mostra cada vez mais
incapaz de resolvê-lo.
A mimese
nem sempre se dá por incompetência.
O
documentário Inside Job (vencedor do Oscar de 2010) já havia mostrado como
economistas das principais universidades norte-americanas, que jamais
questionaram os fundamentos da desregulamentação que resultou na crise de 2008,
estavam também vinculados a instituições financeiras, em um evidente conflito
de interesses.
E para os que
seguem repetindo sem parar propostas de redução de gastos e achatamento do
Estado, a OIT, como recomendação final de seu trabalho, sugere que sejam
eliminadas as crenças negativas sobre intervenções dos governos no crescimento
econômico e a capacidade que elas têm de reduzir a má distribuição de renda
entre a população.
A
recomendação cai como uma luva para grande parte do jornalismo econômico
nacional.
Fonte: Terra Magazine
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