quarta-feira, 9 de abril de 2014

É hora de uma nova “Carta” para acalmar a freguesia

lula É hora de uma nova Carta para acalmar a freguesia
Em meados de 2002, corria a campanha presidencial num cenário que lembra muito o que vivemos hoje. O país era bombardeado diariamente com más notícias sobre os índices econômicos. A Bolsa caia, a inflação subia e o dólar disparava. A culpa era atribuída pela imprensa e pelos "mercados" (leia-se especuladores) não ao governo FHC, já em seus estertores, mas ao candidato Lula, que liderava as pesquisas e corria o sério risco de ganhar a eleição. Criou-se até um "lulômetro" para medir os prejuízos na economia diante da provável vitória do petista.
Mais ou menos como acontece agora, vivia-se um clima de quase pânico, com os colunistas e analistas econômicos (ainda não havia os blogueiros) martelando todos os dias que a situação estava fugindo do controle e só tendia a piorar.
No comando da campanha de Lula, da qual eu fazia parte, cuidando da área de imprensa, a cada dia ficava mais evidente que era preciso fazer alguma coisa para evitar uma possível sangria de votos nos índices de pesquisas. E tinha que ser algo de grande repercussão, que tivesse efeito imediato nos mercados daqui e de fora.
Foi assim que surgiu, em maio daquele ano, a ideia da "Carta aos Brasileiros" lançada por Lula, escrita e reescrita a várias mãos, seguindo a orientação do depois ministro da Fazenda Antônio Palocci, principal interlocutor da campanha com o empresariado. Era um compromisso do candidato garantindo que, se eleito, manteria os contratos e as linhas centrais da política de estabilidade econômica. A urubuzada financeiro-midiática se acalmou, a imprensa foi procurar outros alvos para atingir o PT, e Lula manteve a dianteira até o final, quase ganhando já no primeiro turno a disputa contra o candidato do governo, José Serra.
A diferença é que agora o PT está no governo. Os adversários e suas armas são os mesmos de sempre. Por isso acho que está na hora da presidente Dilma Rousseff sair da defensiva e lançar uma nova "Carta", uma espécie de "Compromisso com o Futuro", anunciando agora quais são seus planos para a economia a partir de 2015, caso seja reeleita. Eleição, afinal, é sempre uma renovação de esperanças, não dá para viver eternamente só do que já foi feito.
Quem deu a pista foi o próprio Lula. Em entrevista coletiva concedida a oito blogueiros na terça-feira, para a qual não fui convidado, o ex-presidente disse com todas as letras o que pensa sobre as dificuldades enfrentadas pela economia brasileira: "Poderíamos estar melhor e a Dilma vai ter que dizer isso na campanha: como é que a gente vai melhorar a economia brasileira". Ao reafirmar pela enésima vez que não é candidato e vai fazer a campanha de Dilma, Lula aproveitou para criticar os meios de comunicação que tentam jogar um contra o Outro: "Temos que retomar com muita força essa questão da regulação dos meios de comunicação do país".
Quanto antes a presidente sinalizar para todos o que pretende fazer em caso de reeleição, melhor para ela e para o país, que não pode continuar vivendo até outubro neste clima de instabilidade e indefinições, tendo uma Copa do Mundo no meio. Seria uma boa oportunidade também para que os dois principais candidatos de oposição, Aécio Neves e Eduardo Campos, apresentassem os compromissos deles. Não dá mais para falar só de CPI e ficar nesta troca de acusações entre os partidos. É preciso olhar para a frente.
Do B. Kotscho

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